quinta-feira, 18 de outubro de 2007

TROPA DE ELITE



É GUERRA?

Uma das melhores coisas que a pirataria fez por Tropa de Elite foi esquentar os motores das rodas de discussão. Como todo mundo viu o filme em cópia pirata e só poderia comentá-lo após suas estréia "oficial", não parece forçoso acreditar que as críticas e debates que tomaram lugar nos veículos de comunicação já começaram bem amadurecidos.

Na terça-feira do dia 09 de outubro, o filme nacional mais badalado deste ano foi tema do Observatório da Imprensa, programa da TVE. A roda de debatedores contou com a presença do diretor do longa, José Padilha. Durante as considerações finais, o filósofo Renato Janine Ribeiro levantou a situação trágica dos protagonistas deste longa-metragem: "A tragédia ocorre por um descompasso muito grande entre aquilo que você almeja e aquilo que você obtém." O Capitão Nascimento gostaria de erradicar o crime na sua cidade, mas por diversos motivos, ele percebe que não está vencendo nesta luta. Acredito que esta ponderação de Ribeiro é útil para discutir como tomamos partido dos personagens de uma narrativa e a dificuldade em enquadrar o protagonista de Tropa de Elite em nosso julgamento.

O Capitão Nascimento, ao mesmo tempo em que porta valores como honestidade e dedicação à farda, arromba lares e tortura inocentes. É um herói no país que mitificou Lampião e Getúlio Vargas. Ele nos leva a tiracolo durante toda a projeção e, durante todo o tempo, insiste em chamar de guerra aquilo que nos acostumamos a chamar de crise da segurança pública. E se concordarmos que há justeza no termo, estaremos de frente a perguntas indigestas. O que pode e o que não pode ser feito em uma guerra? E o que pode ou não pode ser feito numa guerra quando estamos no meio dela?

Graças à Tropa de Elite, os holofotes sobre temas como direitos humanos, violência e pirataria foram amplificados. O filme desconcerta e promove discussão. Essa é a maior conquista que uma obra poderia ter.

Nota: 9,0 (de dez)

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terça-feira, 9 de outubro de 2007

DEADWOOD


UMA FOCKING SÉRIE

No último domingo, estive com meus amigos Bete e Galdir, assitindo o último DVD da última temporada de Deadwood. Meses atrás, vimos juntos o piloto da série e decidimos que juntos nos despediríamos dela. Enquanto o último episódio se encerrava ante nossos olhos já cheios de saudade, lembro-me de ter perguntado: "vocês reperaram como nós nos relacionamos com Deadwood da mesma forma que nossas mães fazem com suas novelas?" Curiosamente, quando vimos o piloto da série, nem sentimos maiores expectativas. Mas Galdir achava que devia haver algum motivo pra o site IMDB ter cotado tão bem essa produção da HBO. E ele estava certo.

A série, ambientada na metade final dos anos de 1800, leva-nos à pequena cidade de Deadwood, localizada na Dakota do Sul. O lugar é marcado pela violência, em boa medida motivada pela exploração do ouro e por um jogo político ligado à sua vinculação teritorial. Mas isso é só o pano de fundo para o real tesouro da série, que são as relações nada cordiais entre os moradores da cidade. Os personagens são reprimidos, comportamento típico em ambientes hostis, nos quais demonstrar sentimentos é sinal de fraqueza (como bem apontou Bete). Suas falas são marcadamente densas, e seus atos, extremamente sutis. Dentre estes insólitos moradores de Deadwood, ganha destaque o ameaçador Al Swearengen, dono de um saloon onde as manchas de sangue são coisas corriqueiras. Por sinal, Swearengen é certamente o focking papel da vida do ator Ian Macshane, tendo lhe valido um merecido Globo de Ouro. Mas mesmo os personagens secundários (e mesmo alguns terciários) acabam se tornando carismáticos, a exemplo do próprio mocinho Seth Bullock, um homem-da-lei que escolheu o lugar errado pra recomeçar a vida.

Deadwood estreou na HBO em março de 2004, e teve apenas três temporadas. Pra desespero dos fãs, quando o anúncio de cancelamento se deu, a trama ainda não tinha alcançado uma conclusão. A exemplo do que aconteceu com a série Firefly, o canal ofereceu ao produtor executivo uma verba para realização de seis episódios extras que encerrariam a saga. Mais desespero: o produtor, que queria se envolver em novos projetos, recusou a oferta e ficou tudo por isso mesmo. Tipo Caverna do Dragão, mas com tristeza de gente grande.

Nota: 9,0 (de dez)

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