segunda-feira, 28 de julho de 2008

Ledger levará o Oscar?



Heath Ledger vai receber um Oscar póstumo? É uma questão repercutida desde a estréia de Batman - O Cavaleiro das Trevas e tem sua razão de ser, dada a intensidade com a qual o falecido astro defendeu o papel. Pensando a respeito, desconfio, para minha própria tristeza, que ele não vai ganhar este prêmio. A Academia tem certos comportamentos consolidados ao longo da história.

Hollywood dá Oscar de Ator/Atriz preferencialmente para dramas, comédias e policiais, nessa ordem. Exemplos incluem Daniel Day-Lewis em Sangue Negro (2007) e Jack Nicholson em Melhor é Impossível (1997). Qualquer longa-metragem fora destes gêneros dificilmente ganha algo diferente de um prêmio técnico. Em 1987, Sigourney Weaver recebeu uma indicação ao Oscar por sua atuação em Aliens, O Resgate, um filme de ação e ficção científica. E não levou o prêmio. O mesmo aconteceu em 2003 com a primeira das três indicações de Johnny Depp, por seu desempenho espetacular como Jack Sparrow no primeiro longa da trilogia de aventura Piratas do Caribe.

Só um ator foi premiado postumamente. Foi Peter Finch, que ganhou o Oscar
de Melhor Ator depois de morto por Rede de Intrigas, em 1976. A indicação póstuma é algo muito raro. O último caso foi Massimo Troisi, por O Carteiro e o Poeta, em 1995. Ele perdeu pra Nicolas Cage, por Despedida em Las Vegas.
Se indicado,
o nome de Heath Ledger contaria, como Peter Finch, com um ponto favorável: uma indicação anterior. Finch, vencedor em 76, concorreu em 71 por Domingo Sangrento. Ledger era um nome forte quando disputou em 2003 por O Segredo de Brockback Mountain. Mas um ponto negativo é que o espaço de tempo entre a morte de Heath Ledger e a próxima cerimônia do Oscar é muito grande. Peter Finch faleceu apenas dois meses antes da cerimônia que o premiou. Ledger morreu em janeiro de 2008, e a próxima edição do Oscar será apenas no ano que vem. Muita água vai rolar até lá, muitos papéis vão ganhar destaque e muitos lobbystas vão fazer a cabeça dos jurados da Academia.

A Academia costuma dar "Prêmios Compensatórios" para astros recém-consagrados. Se Heath Ledger tem chances, é por causa deste costume de Hollywood.
A Academia parece ter pavor por "dar asa a cobra". Quem fez carreira no circuito pop raramente recebe um prêmio quando causa impacto em um papel dramático. Comediantes costumam ser os maiores alvos desta tendência. Robin Willians já foi indicado três vezes (por Bom Dia Vietnã!, O Pescador de Ilusões e Sociedade dos Poetas Mortos) e teve de se contentar com a premiação de coadjuvante por Gênio Indomável. Jim Carrey, então, nem se fala. Foi solenemente ignorado e sequer foi indicado por seu desempenho em O Show de Truman e Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças.
Quando o nome é testado e volta a brilhar depois de uma indicação fracassada, começa a aumentar as chances de receber um Oscar Compensatório. Quando Russel Crowe venceu por Gladiador, em 2000, derrubou Javier Barden por Antes do Anoitecer e Geoffrey Rush por Contos Proibidos do Marquês de Sade. E a impressão que ficou foi a de que não era pra tanto, e que aquilo foi uma compensação por ele não ter levado no ano anterior, por O Informante. Nicole Kidman é outro exemplo recente. Foi Melhor Atriz em 2002 por As Horas, interpretando Virgínia Wolf. Muita gente protestou no ano anterior, quando perdeu ao ser indicada por Moulin Rouge. A estatueta foi para Halle Berry, por A Última Ceia, no mesmo ano em que Denzel Wahington, já indicado em duas vezes anteriores, foi premiado por Dia de Treinamento.
Essa tendência certamente pesou contra Ledger, astro de bobagens como
Coração de Cavaleiro, quando foi indicado pela primeira vez por O Segredo de Brockeback Mountain. Desde então, o jovem ator se envolveu com filmes desafiadores, como o recente Não Estou Lá, em que fez uma das personas de Bob Dylan. É um capital simbólico positivo, assim como a mobilização de fãs e de atores como Michael Caine e Gary Oldman, colegas de elenco de Ledger em Batman - O Cavaleiro das Trevas. Mesmo assim, não parece suficiente.

Heath Ledger terá mais chances se for considerado um ator coadjuvante para fins de indicação a Oscar. Pelo tempo que o Coringa aparece em cena, faria sentido. Se o ator for premiado na categoria coadjuvante, será um feito inédito. Mas vivo ou morto, na cetegoria que for, receber um Oscar não é apenas uma questão de mérito. Há muitas paixões e pressões envolvidas em um clima desportivo que normalmente é pouco saudável. O que importa
é que Ledger provou seu valor como intérprete. Pra quê levar o Oscar... so serious?

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Batman - O Cavaleiro das Trevas


Batman Begins, o longa que deu início a essa reimaginação do herói segundo o diretor Chris Nolan e o roteirista David Goyer, é bom, mas tem seus problemas. O personagem James Gordon fazendo as vezes de alívio cômico. Uma certa incapacidade do filme em criar tensão para o final da trama. E o próprio final ser, digamos assim, excessivamente apoteótico. Pois Batman - O Cavaleiro das Trevas resolve todos estes problemas com louvor.

Algumas pessoas acusam o filme de ser muito longo. Mas a sensação que tive é do contrário. Parece haver muito pouco tempo para explorar tudo o que a trama costura. Repare, muitas cenas não levam mais de quinze segundos. Nada é gratuito nesta sequência, Nolan não tinha tempo a perder, mesmo contando com mais de duas horas e meia de projeção. É bem verdade que o espectador se sente meio enpanturrado de informações. Mas a digestão é favorecida por um roteiro que, a exemplo de Begins, é muito bem-amarrado, e de brinde,
traz a atuação demolidora de Heath Ledger como o Coringa mais assustador e fascinante jamais visto no cinema.

O clímax dramático e minimalista é outra grande virtude. Difere de tudo o que você já viu em um filme de super-heróis. E não é pra menos. A trama demonstra um esforço dos realizadores por tornar tudo o que aparece na tela algo real, algo crível. Quando vemos um vilão apontar uma arma pra alguém, nós realmente tememos pelo personagem ameaçado, por que vimos várias tragédias ao longo da narrativa e nada garante que o Homem-Morcego pode mesmo salvar a pátria. Pena que este realismo é ignorado em um dado momento (Passe o cursor no resto deste parágrafo caso queira mesmo saber do que estou falando). Quando o genial plano do Coringa falha, ao final do filme, a sensação que fica é a de que os civis e criminosos ameaçados nos barcos são ainda mais inacreditáveis do que todo o aparato tecnológico do Batman. O roteiro simplesmente sabotou o Coringa de uma forma piegas, o que é imperdoável.

Mesmo com um ou outro tropeço, este é um longa-metragem que vai conquistar até mesmo os que não curtem histórias em quadrinhos. Batman - O Cavaleiro das Trevas bate no peito e grita alto: "eu sou um FILME! ME RESPEITE!" Há história, há personagens, há direção. Não é um projetinho caça-níqueis como Homem-Aranha 3.

Nota: 09 (de dez)