domingo, 28 de setembro de 2008

Trovão Tropical


Um belo ponto marcado por Ben Stiller. Ele não é lá um diretor primoroso, há inclusive um problema de ritmo em Trovão Tropical, que cai um pouco no meio do filme. Mas este é um trabalho divertidíssimo, tanto pelas ótimas atuações, incluindo participações especialíssimas, quanto pelo roteiro cheio de boas sacadas.
A trama apresenta o elenco de um filme de guerra que se envolve em um conflito de verdade, seguindo uma fórmula idêntica a de comédias bacanas como Os Três Amigos e Heróis Fora de Órbita. Mas em comparação com estes longa-metragens, Trovão Tropical aproveita melhor a metalinguagem para tirar sarro de Hollywood, graças aos arquétipos representados pelo trio de protagonistas que busca reconhecimento profissional. Stiller é um astro de filmes de ação; Jack Black vive um comediante viciado em drogas; e Robert Downey Jr. é o ator de renome que vive obcecado pelos personagens que representa. O elenco traz ainda Nick Nolte, Matthew McCounaghey e Tom Cruise, que defende um papel absolutamente impagável.
As referências também são um deleite para os cinéfilos, parodiando clássicos como Platoon, Apocalipse Now e O Resgate do Soldado Ryan. Nem os próprios atores escapam das gozações, como se pode constatar no trailer falso que nos apresenta ao personagem de Downey Jr, claramente inspirado em Garotos Incríveis.

Nota: 8,0 (de dez)

domingo, 14 de setembro de 2008

Ensaio Sobre a Cegueira


Ensaio Sobre a Cegueira é bom, enquanto filme. Mas como adaptação do premiado livro de Saramago, é melhor ainda.
O diretor Fernando Meirelles comandou uma produção na qual todos os detalhes são mobilizados em favor da fidelidade à obra. O romance não especifica o local onde a trama se desenrola, uma imprecisão reforçada pela filme através das músicas de diversos países que compõem a trilha sonora, a diversidade de locações (incluindo as cidades de São Paulo e New York), e o anonimato de seus personagens. O elenco também é, digamos, multinacional: temos os estadunidenses Juliane Moore, Mark Ruffallo e Danny Glover contracenando com o mexicano Gael García Bernal, a brasileira Alice Braga e o japonês Yusuke Iseya, vivendo o primeiro homem a ser afetado pela inexplicável cegueira que se alastra rapidamente pela população.
Este caos e desorientação são traduzidos por câmeras que saem de foco, enquadram mal e por várias vezes saturam para a máxima luminosidade ou a completa escuridão. São truques que intensificam os momentos de tensão do filme, que traz a cegueira como uma metáfora para mostrar do que as pessoas são capazes quando vislumbram a expectativa da impunidade. Quando os doentes são presos em um centro de quarentena onde as leis já não se aplicam, Ensaio Sobre a Cegueira faz lembrar o clássico O Homem Invisível, adaptado em 2000 por Paul Verhoeven. Outra referência inevitável são os filmes de George Romero: algumas tomadas de tom mais apocalíptico parecem ter saído diretamente de Madrugada dos Mortos.
Estabelecendo um paralelo com a atuação de Al Pacino em Perfume de Mulher, todos aqui têm o desafio de interpretar cegos que não usam óculos escuros, o que é muito mais difícil. Por vezes os atores caem na armadilha de não "olhar" para a direção em que alguém está falando com eles, como faria uma pessoa que perdeu a visão recentemente. No fim das contas, Juliane Moore, que vive a única pessoa imune a doença, defende um papel de alta carga dramática e brilha nas poucas oportunidades em que precisa fingir estar contaminada. Enquanto assistia ao filme, me perguntei se seria cedo para imaginar um Oscar pra a atriz.

P.E: Diabos, lá vou eu falando em Oscar de novo...

Nota: 7,0 (de dez)