domingo, 24 de janeiro de 2010

Títulos Baianos

É vergonhoso que eu retorne pro blog por causa de uma piada que vi na internet. Mas, baiano afeito a estereótipos que sou, não pude deixar de dar um certo valor... Confira como ficariam alguns títulos de filme, se o tradutor fosse baiano:

Uma Linda Mulher – Piriguete Bunita Cuma Zorra.

Quem Vai Ficar Com Mary? – Quem Vai Lascá Maria Em Banda?

Riquinho – Barãozinho

Velocidade Máxima – O Buzú virado na disgraça

Os Bons Companheiros – Os Corrente

O Paizão – O Grande Painho

A Morte Pede Carona – A Misera Quer Pongar

Ghost – O Encosto

O Poderoso Chefão 1 – ACM

O Poderoso Chefão 2 – ACM Júnior

O Poderoso Chefão 3 – ACM Neto

O Exorcista – O Lá Ele

Táxi Driver – O Taquiceiro

Corra Que A Policia Vem Aí – Se Pique Que Os Meganha Tão Desceno

O Senhor dos Anéis – O Coroa Dos Balangandans

Janela Indiscreta – Vizinho Na Cocó

Velozes e Furiosos – Ariscos e Virados No Istopô

Esqueceram de Mim – Me Crocodilaram

Forrest Gump – O Culhudeiro

Clube da Luta – Os Cumedor de Pilha

O Cavaleiro das Trevas – O Jagunço do Breu

Silêncio dos Inocentes – O Morta-Fome

Cidade de Deus – Bairro da Paz

Mamma Mia! – O Paí Ó

Sociedade dos Poetas Mortos – É O Tchan Cumeno no Centro

sábado, 24 de outubro de 2009

Bastardos Inglórios


Bastardos Inglórios é o mais intenso Tarantino já feito. O filme costura os velhos cacoetes do diretor de forma visceral, como os diálogos longos e bem afiados, as sequências violentas, a narrativa em capítulos, as referências ao cinema. É ame-o ou deixe-o. Aqui, a autoralidade do cineasta que fez escola depois de Cães de Aluguel e Pulp Fiction é uma constante, mas nunca um fardo. Bastardos Inglórios não é um exercício de estilo, é sua consolidação.

Tarantino, em boa medida, é texto. É impressionante o domínio que ele atingiu sobre essa ferramenta, a ponto de fazer um investimento desmedido no trabalho de atores. O maior beneficiado é Christopher Waltz, interpretando o papel de sua vida em nada menos do que quatro cenas de tirar o fôlego. Através do caçador de judeus Hans Lada, Waltz chega a ter mais destaque do que os personagens-título, até por que está envolvido em todas as tramas paralelas do longa-metragem. O que não significa que não haja bons momentos para um impagável Brad Pitt, na pele do Tenente Aldo Raine, ou de Til Schweiger, como o sinistro Sargento Hugo Stiglitz.

Embora Jackie Brown tenha seus méritos, nada que Tarantino fez depois de Pulp Fiction me agradou tanto. Diferente do filme que pôs Travolta de volta ao jogo, este longa é mais cinemão e foge da auto-referência apontada por Selton Mello. Bastardos Inglórios, em si, é um universo único, que subverte a história e não economiza em caricaturas, seja dos personagens, seja do próprio diretor.

Nota: 9,0 (de dez)

domingo, 16 de agosto de 2009

Arraste-me Para o Inferno


É bem verdade que Arraste-Me Para o Inferno está anos-luz à frente das asneiras do cinema de horror que vem ganhando os telões. Mas considerando o potencial do cineasta que sacudiu o gênero na primeira metade dos anos 80 e que conseguiu merecido respeito da crítica após Homem-Aranha 2, este novo filme de Sam Raimi fica devendo .

A trama tem foco em uma protagonista interessante, uma jovem bancária boazinha, pero no mucho. Ela deseja ganhar uma promoção, o que a leva a recusar um empréstimo para uma humilde senhora cigana que acaba se mostrando uma mistura de Baba Yaga com Chuck Norris. Para piorar, a velhinha entende de maldições, e faz com que a mocinha seja perseguida por demônios bem parecidos com aqueles da clássica trilogia Evil Dead, do mesmo diretor.

As semelhanças entre Arraste-me Para o Inferno e os três filmes estrelados por Bruce Campbell incluem ainda os enquadramentos alucinantes, o humor escatológico e até alguns elementos da trilha sonora. Até aí, seria o suficiente para garantir uma agradável sessão de cinema. Mas o cineasta Sam Raimi esqueceu (ou não se importou) com o fato de que, às vezes, é importante não entregar a compreensão total das cenas, de mão beijada, ao espectador. Ele investe, desde o começo do longa-metragem, em pequenas tomadas desnecessárias, que levam o espectador mais atento a antecipar diversos momentos da projeção - um problema particularmente indesejável em um filme de horror.


É um trabalho funcional, vale reconhecer. O diretor não perdeu o jeito e dosa bem os momentos de humor, além de ter bom domínio dos clichês do gênero, como os sustos favorecidos por rápidas intervenções da trilha sonora. Não são recursos dos mais originais, mas dão certo. Talvez essa nota aí embaixo seja mais um pequeno protesto de quem sabe que Sam Raimi tem muito mais a oferecer.

Nota: 6,0 (de dez)

sexta-feira, 12 de junho de 2009

O Exterminador do Futuro: A Salvação


McG é um diretor competente. E se você acha que esta opinião é motivo suficiente pra me enforcar em praça pública, vai ficar ainda mais colérico ao saber que acho que mesmo em As Panteras 2: Detonando, ele fez um bom trabalho, do ponto de vista dos enquadramentos, do tempo que é dado a cada cena, a cada gesto, do modo como ele dirige nossa atenção e orquestra outros elementos do fazer cinema, como a fotografia, a trilha, a edição de imagens e de som. Em Exterminador do Futuro: A Salvação, McG até se deu ao luxo de ousar em algumas tomadas, como um plano-sequência com Christian Bale que me fez lembrar de certos momentos de Filhos da Esperança. O que há de lamentável neste filme, e que o estraga para além do suportável, é o roteiro.

Não tive coragem de assistir o terceiro filme da série, mas os dois primeiros longas, de James Cameron, apresentavam uma mitologia rica. Alguns elementos que remontam aos primeiros filmes foram relembrados, como a cicatriz no rosto de Connor e a canção You Could Be Mine, dos Guns N' Roses, tema do filme de 93. Mas as características dramáticas se dispersaram em uma narrativa morna. John Connor, aqui interpretado por Christian Bale, era alguém que conhecíamos desde 1984: o homem que carregaria o fardo de liderar a humanidade contra máquinas assassinas auto-conscientes, e que desde criança teria de se preparar para isso. Imagine o dilema de mandar ao passado o próprio pai, Kyle Reese, que morrerá para proteger a mãe de Connor de um ciborgue enviado para acabar com o líder da resistência antes mesmo que ele nasça. Neste quarto filme, o papel se inverte, e é Connor quem precisa salvar o pai, um adolescente interpretado por Anton Yelchin. Esses laços de paternidade, quase que mútuos, entre dois caras que ainda não se conhecem, é tratado com desleixo pelos roteiristas. Connor é apenas um cara mau-humorado que em nenhum momento cativa o espectador, que acaba se afeiçoando muito mais ao carismático personagem de Sam Worthington, Marcus, um homem que se torna aliado do herói, mas esconde um segredo que ele próprio desconhece.

O problema é que, paralelamente à ação initerrupta, há gritantes furos de roteiro que nos levam a pensar até que ponto as máquinas são mesmo ameaçadoras. A começar pela clássica e insistente manobra dos ciborgues de arremessar os mocinhos de um lado para outro quando poderiam simplesmente atravessar o peito das vítimas com as próprias mãos. Ou então, o fato absolutamente ilógico de não matar Kyle Reese em vários momentos perfeitamente oportunos. E o que dizer do intragável e constrangedor ato final, quando as máquinas fazem a mais burra e recorrente mancada da vilania humana, de contar o plano maligno?

Concordo com a crítica de Isabela Boscov, da Veja. Este novo filme é melhor do que o terceiro Exterminador, mas não vai muito além disso.

Nota: 5,0 (de dez)

domingo, 8 de março de 2009

Watchmen - O Filme


Sempre que uma história em quadrinhos é levada para a tela do cinema, alguém aponta uma nova “melhor adaptação de gibis de todos os tempos”. Durante a década de 80 e 90, Superman - O Filme, de Richard Donner, ostentou esse título, que foi desafiado por longas-metragens do Batman, Homem-Aranha, X-Men, e mais recentemente, Homem de Ferro. Mas a partir de Sin City, algo realmente mudou. Já não falávamos mais de uma adaptação, mas sim, uma verdadeira conversão cinematográfica da obra. Diálogos, enquadramentos, cenografia, e vários outros elementos da HQ foram fielmente reproduzidos pela sétima arte. Watchmen - O Filme segue exatamente essa linha.

É uma escolha que facilita a aceitação do público fã de gibis, e que ressalta a qualidade da trama original. Zack Snyder, diretor de 300, também inspirado em quadrinhos, certamente teve isso em mente ao cuidar de Watchmen, um filme que era esperado há 20 anos. O longa é recheado de boas escolhas, da trilha sonora à composição do elenco, formado por atores menos conhecidos que defendem bem os papéis de super-heróis aposentados que entram em crise quando um dos membros do grupo é assassinado. As investigações vão revelar um plano absolutamente assombroso.

O gênio criativo por trás da história é o inglês Alan Moore, um dos maiores, senão o maior escritor de quadrinhos da atualidade. Watchmen é seu trabalho mais importante, além de ser uma referência dos quadrinhos modernos. Ele já teve outras obras adaptadas para as telonas, incluindo Do Inferno, com Johnny Depp, e A Liga Extraordinária, com Sean Connery. A julgar pela qualidade desse último, não é de admirar que Moore seja radicalmente contrário às adaptações dos seus gibis. Quem sabe, depois de Watchmen, ele fica menos insatisfeito.

Nota: 8,00 (de dez)

domingo, 28 de setembro de 2008

Trovão Tropical


Um belo ponto marcado por Ben Stiller. Ele não é lá um diretor primoroso, há inclusive um problema de ritmo em Trovão Tropical, que cai um pouco no meio do filme. Mas este é um trabalho divertidíssimo, tanto pelas ótimas atuações, incluindo participações especialíssimas, quanto pelo roteiro cheio de boas sacadas.
A trama apresenta o elenco de um filme de guerra que se envolve em um conflito de verdade, seguindo uma fórmula idêntica a de comédias bacanas como Os Três Amigos e Heróis Fora de Órbita. Mas em comparação com estes longa-metragens, Trovão Tropical aproveita melhor a metalinguagem para tirar sarro de Hollywood, graças aos arquétipos representados pelo trio de protagonistas que busca reconhecimento profissional. Stiller é um astro de filmes de ação; Jack Black vive um comediante viciado em drogas; e Robert Downey Jr. é o ator de renome que vive obcecado pelos personagens que representa. O elenco traz ainda Nick Nolte, Matthew McCounaghey e Tom Cruise, que defende um papel absolutamente impagável.
As referências também são um deleite para os cinéfilos, parodiando clássicos como Platoon, Apocalipse Now e O Resgate do Soldado Ryan. Nem os próprios atores escapam das gozações, como se pode constatar no trailer falso que nos apresenta ao personagem de Downey Jr, claramente inspirado em Garotos Incríveis.

Nota: 8,0 (de dez)

domingo, 14 de setembro de 2008

Ensaio Sobre a Cegueira


Ensaio Sobre a Cegueira é bom, enquanto filme. Mas como adaptação do premiado livro de Saramago, é melhor ainda.
O diretor Fernando Meirelles comandou uma produção na qual todos os detalhes são mobilizados em favor da fidelidade à obra. O romance não especifica o local onde a trama se desenrola, uma imprecisão reforçada pela filme através das músicas de diversos países que compõem a trilha sonora, a diversidade de locações (incluindo as cidades de São Paulo e New York), e o anonimato de seus personagens. O elenco também é, digamos, multinacional: temos os estadunidenses Juliane Moore, Mark Ruffallo e Danny Glover contracenando com o mexicano Gael García Bernal, a brasileira Alice Braga e o japonês Yusuke Iseya, vivendo o primeiro homem a ser afetado pela inexplicável cegueira que se alastra rapidamente pela população.
Este caos e desorientação são traduzidos por câmeras que saem de foco, enquadram mal e por várias vezes saturam para a máxima luminosidade ou a completa escuridão. São truques que intensificam os momentos de tensão do filme, que traz a cegueira como uma metáfora para mostrar do que as pessoas são capazes quando vislumbram a expectativa da impunidade. Quando os doentes são presos em um centro de quarentena onde as leis já não se aplicam, Ensaio Sobre a Cegueira faz lembrar o clássico O Homem Invisível, adaptado em 2000 por Paul Verhoeven. Outra referência inevitável são os filmes de George Romero: algumas tomadas de tom mais apocalíptico parecem ter saído diretamente de Madrugada dos Mortos.
Estabelecendo um paralelo com a atuação de Al Pacino em Perfume de Mulher, todos aqui têm o desafio de interpretar cegos que não usam óculos escuros, o que é muito mais difícil. Por vezes os atores caem na armadilha de não "olhar" para a direção em que alguém está falando com eles, como faria uma pessoa que perdeu a visão recentemente. No fim das contas, Juliane Moore, que vive a única pessoa imune a doença, defende um papel de alta carga dramática e brilha nas poucas oportunidades em que precisa fingir estar contaminada. Enquanto assistia ao filme, me perguntei se seria cedo para imaginar um Oscar pra a atriz.

P.E: Diabos, lá vou eu falando em Oscar de novo...

Nota: 7,0 (de dez)